quarta-feira, 22 de outubro de 2014

A.M.



Ainda há pouco,
com o dedo em riste,
apontava adiante,
dizendo aos errantes:
ali está a noite!
Vamos em frente!
Adentremos sem hesitar,
ali brilham as luzes,
são risos e festas,
ali está a noite,
sigamos; adiante!

Que ironia! Ah, a ironia...
Mal começa a madrugada,
e me pergunto constantemente,
repleto dessa beleza,
que possuo e que me possui,
recém-saída do forno, e do molde,
cheio de força, de vida;
Como poderei amar-te,
se ainda não estás aqui,
a sentir a madrugada,
se é dia, ainda,
se o entardecer demorará
pra ti?

Como posso ser aquele
que gritava o caminho,
a lamentar a lentidão
dos passos, a cegueira...
A noite está adiante, sigamos,
como posso pedir que venhas,
antes de seu tempo?
Seu~Tempo...

Se ainda contemplas as flores,
abertas, e coloridas,
ou se ainda nem isso,
se ainda se entedias com as árvores,
com os morros e montanhas,
e pedras, sempre ali,
a fazer seu existir existir...
A noite está adiante,
a madrugada nos entorpecerá em breve,
sigamos, adiante...

Não! me perdoe;
não será de mim
que ouvirás o convite,
não será da minha boca
que sentirás o instante mágico,
a sugar-lhe a vida, e a saliva,
não te indicarei o caminho,
ele não existe!
Por ora, ele não existe...

Acredite, existem pessoas
às quais os dias não acabam nunca!
Viverão todas as suas horas ao sol,
ao azul do céu... Não venhas!
Aqui é noite,
é madrugada,
ouvem-se os risos e
o crepitar das luzes,
são festas...




terça-feira, 14 de outubro de 2014